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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

*** AléxiA ***




Caio novamente num enigma que me intriga,
Fantasia passada, dúvida, que me obriga
A questionar tudo o que falo com esta mulher,
E nem sei o que o meu coração quer;

Será a eterna curiosidade que me faz te desejar?
Ou trata-se apenas de tapar o sol com a peneira?
Porque a vida me prega mais esta rasteira
De fantasiar com alguém que nunca me poderá amar?

Penalizo-me por pensar assim, de forma tão vulgar,
Vê-la com desejo, com tesão, com fome de algo diferente,
Vê-la com a vã esperança de poder prová-la vorazmente,
E deixar-me levar pela estupidez do sexo pelo sexo,

Enquanto a minha alma se perde sem conseguir mais voltar,
Deixando-me imbuir do espírito imaterial de Sappho,
Ao implorar-te que me deixes provar o teu delicioso fluxo
Sabendo que jamais em tempo algum, sem ele, me safo.

Devaneios meus, eu sei, bela Alexia, não duvides,
Talvez noutra encarnação ficaremos como duas tágides,
Quando possuir a nobre voluptuosidade de um corpo como o teu,
E o poder de conquistar, apenas com o delicioso gineceu,

E poder provar do teu néctar doce e lascivo,
E maravilhar-me de que tudo aquilo que agora te mostro,
É apenas e só mais um pequeno motivo,
Para deixar de amar, pois só me tornando um monstro

Poderei suportar a dor de sentir falta de algo tão lindo,
E que pediria por tudo nunca mais desaparecer,
O amor que nunca terei, embora anseie sempre obter,
Dou este simples sentimento, do meu âmago, por hora findo.
 
por Hebitsukai (13 de Janeiro de 2012 - 1:11)

sábado, 29 de dezembro de 2012

Estrela da Tarde


"Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza


Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto

Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!"

 
Estrela da tarde, Ary dos Santos

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

"Velejando..."


"Essa vaga de pele, do nosso aperto em caravela
Essa chaga de fel, patamar dum enredo à janela...
Sem penas voei na palavra escrita do teu corpo
E não foi apenas na quente barca do teu porto...

Voar abraçando corpo, minha pele em ti são brasas
Nunca é tarde libertar meu coração e dar-lhe asas...
Nunca é tarde, soltar as amarras que alma embarca
Velejando por tudo o que o meu amor por ti abarca!..."

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Voando mais longe.


Não sei amar pela metade.
Não sei viver de mentira.
Não sei voar de pés no chão.
Sou sempre eu mesma, 
mas com toda a certeza,
não serei a mesma para sempre.

de Clarice Lispector

domingo, 16 de dezembro de 2012

Chuva em mim...


 Você diz que ama a chuva mas você abre seu guarda chuva quando chove.
Você diz que ama o sol, mas você procura um ponto de sombra quando o sol brilha.
Você diz que ama o vento, mas você fecha as janelas quando o vento sopra.

É por isso que eu tenho medo...
Você também diz que me ama.

by William Shakespeare.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Será que sou lésbica?...


"Por vezes estas questões colocam-se especialmente a mulheres que sempre se consideraram atraídas por homens e de repente se começam a sentir atraídas por mulheres. Este sentimento começa a fazer confusão a quem sempre viu as outras mulheres como apenas alguém do mesmo sexo.

A verdade é que qualquer lésbica assumida a certa altura da sua vida já se colocou esta questão: “Será que sou lésbica?” Outra verdade é que muitas mulheres heterossexuais também já se questionaram da mesma forma, o que é absolutamente normal, e faz parte de nós como pessoas questionarmo-nos e não assumir certezas absolutas. Assim como saber se é realmente lésbica ou só alguém curioso com o assunto?

Ter este tipo de dúvidas não é só comum nos adolescentes onde as dúvidas em relação à sexualidade são bastantes frequentes. Existem mulheres que sempre se consideraram lésbicas e outras que o descobrem quando já são casadas há mais de 20 anos. Procurar um método científico ou eficaz que responda às suas dúvidas sobre a nossa sexualidade é uma demanda perfeitamente legítima; e não se pode deixar de concordar que se pudéssemos determinar a sexualidade através de um simples questionário poderia evitar-se muito sofrimento emocional.
Infelizmente só com um questionário ou com outro método rápido não se pode determinar a sexualidade num ápice.
Descobrir a orientação sexual não é simples e rápido, como tomar um comprimido para a dor de cabeça. Esta procura é algo que demora tempo e requer um autoconhecimento muito profundo e uma sinceridade pessoal muito frontal. Por vezes é boa ideia falar com um psicólogo, ou mesmo com um grupo de lésbicas que se estejam na fase de se revelarem.

Muitas mulheres identificam-se como lésbicas depois de experiênciarem sentimentos por outra mulher. Outras mulheres só depois de anos de relações e atrações por outras mulheres é que se assumem como lésbicas. Muitas mulheres ficarão sempre atraídas por homens e por mulheres sendo consideradas bissexuais.

O importante é saber que a sua orientação sexual não é algo que escolha ou que possa comprar ou mesmo um simples capricho. A única coisa que pode verdadeiramente escolher é agir de acordo com a sua sexualidade ou decidir não o fazer. Se tem uma relação que considera uma relação boa com um homem há bastante tempo e se vê atraída por outra mulher isso não quer dizer que seja lésbica, pode simplesmente ser bissexual e ignorar o facto. A verdade é que se sentir unicamente atraída por mulheres e o seu marido não for mais que um bom amigo, a probabilidade de ser lésbica é muito grande."

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"Tente sempre ter paciência e dê tempo a si mesma para que os seus sentimentos assentem dentro de si e possa tomar a decisão mais verdadeira. O processo de se certificar da sua sexualidade é um processo por vezes moroso e de grande determinação. A verdade é que não importa se é lésbica, bissexual ou heterossexual, a verdade é que o que verdadeiramente importa é ser feliz e estar bem consigo mesma."

in, letral.com (http://letral.com/artigos/como-saber-se-sou-lesbica)

sábado, 8 de dezembro de 2012

Saudade...



"Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida...

Saudade é sentir que existe o que não existe mais...

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido."

Poema "Saudade" de Pablo Neruda

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Cântico Negro


"Vem por aqui" dizem-me alguns com os olhos doces estendendo-me os braços, e seguros de que seria bom que eu os ouvisse quando me dizem: "vem por aqui!" Eu olho-os com olhos lassos, (há, nos olhos meus, ironias e cansaços) e cruzo os braços, e nunca vou por ali... A minha glória é esta: Criar desumanidades! Não acompanhar ninguém. Que eu vivo com o mesmo sem-vontade com que rasguei o ventre à minha mãe não, não vou por aí! Só vou por onde me levam meus próprios passos... Se ao que busco saber nenhum de vós responde por que me repetis: "vem por aqui!"

 
Prefiro escorregar nos becos lamacentos, redemoinhar aos ventos, como farrapos, arrastar os pés sangrentos, a ir por aí... Se vim ao mundo, foi só para desflorar florestas virgens, e desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! O mais que faço não vale nada.

 
Como, pois, sereis vós que me dareis impulsos, ferramentas e coragem para eu derrubar os meus obstáculos... Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós, e vós amais o que é fácil! Eu amo o longe e a miragem, amo os abismos, as torrentes, os desertos...


Ide! Tendes estradas, tendes jardins, tendes canteiros, tendes pátria, tendes tetos, e tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios... Eu tenho a minha loucura! Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura, e sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios... Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém! Todos tiveram pai, todos tiveram mãe; mas eu, que nunca principio nem acabo, nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

 
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções, ninguém me peça definições! Ninguém me diga: "vem por aqui"! A minha vida é um vendaval que se soltou, é uma onda que se alevantou, é um átomo a mais que se animou... Não sei por onde vou, não sei para onde vou, sei que não vou por aí!"



José Régio, pseudônimo literário de José Maria dos Reis Pereira, nasceu em Vila do Conde em 1901. Licenciado em Letras em Coimbra, ensinou durante mais de 30 anos no Liceu de Portalegre. Foi um dos fundadores da revista "Presença", e o seu principal animador. Romancista, dramaturgo, ensaísta e crítico, foi, no entanto, como poeta que primeiramente se impôs e a mais larga audiência depois atingiu. Com o livro de estreia "Poemas de Deus e do Diabo" (1925) apresentou quase todo o elenco dos temas que viria a desenvolver nas obras posteriores: os conflitos entre Deus e o Homem, o espírito e a carne, o indivíduo e a sociedade, a consciência da frustração de todo o amor humano, o orgulhoso recurso à solidão, a problemática da sinceridade e do logro perante os outros e perante a si mesmos.
 
in, Releituras e Textos ( http://www.releituras.com/jregio_cantico.asp)