Com a cabeça encostada ao volante respirei fundo, vê-la fugir assim deixou-me abalada, um sentimento estranho tomou conta de mim. Estava nervosa, trémula e profundamente excitada como há muito não me sentia, além disso sentia na minha boca o seu sabor e isso ainda aumentava mais a minha líbido. Mas, por outro lado, a razão dizia-me que não deveria ter cedido, ela é muito nova e inexperiente…
- “Mas ela quer-me… ela ama-me…” - Gritava mentalmente enquanto ligava o carro e me preparava para arrancar.
- “Estou a ficar doida, que me fizeste tu Yara?” - Pensava eu enquanto ligava a ignição do carro, punha a mudança e arrancava em direção a casa.
Eu sabia que não devia ter cedido, mas não conseguira resistir à sua curiosidade nem ao seu jeito tão descomplexado de agir, mas ao mesmo tempo algo tímido de ser e que me deixou rendida aos seus encantos, que nem são assim tão poucos como isso.
Ela é lindíssima, sem ser muito alta, devendo ter aí um metro e sessenta e cinco, consegue ter um porte altivo e seguro de si, lá está, apesar da timidez que demonstra em algumas situações. Como dizia, ela não é muito alta nem muito magra, tem curvas bem delineadas quer nos seios cheios, mas não muito grandes tal como nos glúteos que parecem ser bem firmes… pode ser algo genético ou muito treino de ginásio. Meu Deus, as coisas em que reparo… continuando, ela é ruiva e tem bastantes sardas no rosto delicado, um rosto com lábios finos e rosados e onde sobressaem uns olhos grandes e verdes.
- “Estou enfeitiçada, encantada e apaixon… apaixonada?! Será?! Bom, deve ser só atracão, afinal ela é muito bonita, mas apaixonada não, ela é tão novinha…”
Estava perdida nos meus pensamentos quando o telemóvel começa a apitar avisando a entrada de algumas mensagens. Como estava a conduzir não peguei nele e esperei até chegar a casa para as ler, entretanto aumentei o volume do rádio e fui cantarolando a música “Sensações” da Paula Fernandes por forma a me abstrair dos pensamentos que fluíam e fluíam sem parar.
Estacionei e entrei no prédio, subi até ao meu pequeno apartamento e assim que entrei fui-me livrando das roupas que vestia, estava muito quente o ambiente e eu estava também demasiado quente, dobrei as roupas e pousei-as na beira da cama, deitei-me apenas em roupa interior e fechei os olhos saboreando esta sensação de bem-estar e liberdade…
…acordei estremunhada e sem saber bem onde estava, mas logo me situei, estava no meu quarto e na minha cama e já era noite?! Bocejei e espreguicei-me preguiçosa, rodei por forma a pegar no telemóvel pousado na mesinha de cabeceira e poder assim ver as horas. Já passava das sete e tinha de facto dormido imenso, devia estar a precisar. Quando olhei o telemóvel percebi que tinha umas quantas mensagens por ler, duas da Sónia, uma da minha mãe e uma de um número desconhecido… tinha ainda duas da Kátia, o que me fez estremecer. Se por um lado fiquei algo receosa, por outro lado fiquei mesmo muito curiosa sobre o que ela me queria, até porque, desde que terminámos, nunca mais havíamos falado uma com a outra.
Assim, abri as mensagens com os dedos trémulos e clicando na primeira, li com calma o que escreveu:
“Olá, como estás tu? Acho que deves estar melhor do que eu, desculpa a sinceridade, mas esta separação não me está a fazer bem… Nada faz sentido sem ti na minha vida, diz-me o que tenho de fazer para que voltes para mim?”
Não pude deixar de ficar surpreendida com a mensagem, era uma declaração de amor e ao mesmo tempo um “grito” desesperado de alguém que sofria… Mas não era a única a sofrer e era isso que ela não entendia, por mais que falasse ela não me entendia… Eu não estava melhor do que ela, também sofria, mal dormia e queria mesmo acreditar que ela faria qualquer coisa por mim. Mas o quê? A nossa relação tinha chegado a um ponto sem retorno e não creio que fosse possível reatar ou recomeçar a nossa história.
Suspirei, inspirei e expirei profundamente tentando acalmar o meu coração e o meu corpo que começava a tremer de nervosismo. Carreguei na segunda mensagem e reparei que havia sido mandada umas horas mais tarde, dizendo o seguinte:
“Não sei porque ainda perco tempo com alguém que não quer saber de mim… Nem me respondes… vai lá agarrar-te à outra, faz bom proveito! Não vales nada mesmo! Adeus!”
Fiquei tão passada da cabeça, quando li a mensagem, que me apeteceu atirar com o telemóvel à parede. Apertei com força os lençóis e saltei da cama para ir tomar um duche e esfriar a cabeça. Quando voltei para o quarto, enrolada na toalha, peguei no telemóvel e li a mensagem da minha mãe, que queria apenas saber como estavam as coisas e se eu estava bem, respondi-lhe rápido dizendo que estava bem e abri então as mensagens da Sónia lendo:
“Desculpa, desculpa, desculpa… descai-me e disse à Kátia que tinhas conhecido uma moça no ginásio. Ela não disse nada, mas notei que ficou possessa. Desculpa-me.”
A outra dizia apenas:
“Onde estás? Liga-me por favor!”
Achei piada à última mensagem, “liga-me”?! Como poderia eu ligar a alguém que tem aversão em falar ao telemóvel? Sim, porque ela consegue ser bem pior do que eu, prefiro mensagens a chamadas, mas ela, quando lhe ligam, desliga e manda mensagem a perguntar se era para atender. Só mesmo ela… assim, para a tranquilizar, enviei uma ‘sms’ dizendo que estava tudo bem e que falaríamos no dia seguinte. Não conseguia ficar chateada com ela e depois já sabia que ela acabaria por dizer à Kátia mais tarde ou mais cedo. Afinal ela ainda acreditava que tínhamos uma oportunidade para ficar juntas.
Por fim, abri a última mensagem que era neste caso a primeira, tinha-a recebido no caminho de casa e que, por ter adormecido, não a havia lido. Como não conhecia o número, redobrei a atenção e li:
“Quero antes de mais nada agradecer o tempo que passámos juntas, foi pouquinho, mas de grande importância para mim. Agradeço ainda o almoço e a boleia, foste maravilhosa como já saberia que serias. Ainda sinto o teu sabor e os teus lábios nos meus… desculpa-me por ter fugido, mas não consegui controlar as minhas emoções. Espero estar contigo em breve e por favor não respondas que este é o número da minha mãe. Beijo, Yara.”
Fiquei toda arrepiada ao ler estas palavras, palavras simples, mas sentidas e por isso também tiveram uma grande importância para mim. Quis responder, mas como ela pediu para não o fazer, não o fiz. O meu estado de felicidade e ansiedade era tão grande que eu mal me continha e nesta minha agitação saltitava de um lado para o outro…
- “Pareço uma adolescente apaixonada que descobriu o amor.” - Pensava eu mais uma vez em voz alta. Mas, desta vez, as palavras, ditas assim em voz alta, tiveram em mim o dom de me fazer parar e fixar a minha imagem no espelho.
- “Apaixonada? Será mesmo? E logo por uma menininha? Céus! Isto não me pode estar a acontecer!” - Pensei, desta vez em silêncio, olhando a minha imagem agora pálida, que de olhos esbugalhados me olhava também.
Este conto terá continuação. Agradeço, desde já, a leitura.
Alexandra Miranda (20-10-2025)
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